As discussões sobre a taxa de juros estão protagonizando os debates sobre o cenário econômico no decorrer de todo o primeiro semestre de 2023. Governo e Banco Central estão em lados opostos sobre as perspectivas sobre a Selic e, até aqui, o BC não cedeu às pressões do Executivo.
Com isso, o primeiro semestre do ano vai fechar com a Selic a 13,75% ao ano. O valor foi mantido na última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária, do primeiro semestre. A manutenção da taxa de juros nesse patamar resultou em baixa nas estimativas de inflação para 2023. O dólar também encerra o período abaixo dos R$ 5.
Os dados mais recentes do IBGE apontam uma leve alta no desemprego no primeiro trimestre deste ano. O cenário econômico, que reúne quedas na indústria e nos serviços, indica que o desemprego está em 8,8% em 2023. Ao fim do ano passado, esse número era de 7,9%.
O PIB do primeiro trimestre cresceu 1,9%. Frente ao mesmo trimestre de 2022, o PIB cresceu 4,0%, dando sinais de retomada econômica do pós-pandemia. Boa parte desse crescimento se deve ao agro, que cresceu 18,8% em relação a igual período do ano anterior. A partir desse cenário, o ConexãoCoop reuniu algumas perspectivas para o cenário econômico do segundo semestre de 2023, confira!
Cenário Econômico de 2023: no que ficar de olho
O cenário econômico é complexo tanto no Brasil quanto no contexto global. Afinal, os desafios impostos pela pandemia ainda ecoam na economia global e o conflito entre Rússia e Ucrânia desacelerou a retomada em polos econômicos importantes, sobretudo na Europa.
Dessa forma, reunimos alguns dos temas relevantes do cenário econômico de 2023 que podem impactar os negócios e as decisões das cooperativas no decorrer do segundo semestre.
Inflação no Brasil e no mundo
Os economistas do mercado financeiro reduziram a estimativa de inflação deste ano de 5,42% para 5,12%, aponta o Boletim Focus, um relatório compilado pelo Banco Central a partir de expectativas do mercado. O valor, entretanto, segue acima do teto da meta estipulada, que é 4,75% – o centro da meta é 3,25%.
Caso tal projeção seja confirmada, este será o terceiro ano seguido de estouro da meta. A inflação, com isso, reduz o poder de compra das pessoas e encarece, também, matérias-primas e serviços para as cooperativas.
A inflação é um problema que está mostrando resistência não só no Brasil. Bancos Centrais do mundo todo estão de olho no avanço da inflação. No Reino Unido, por exemplo, as altas dos preços seguem acima de 8%. Com isso, diversos bancos centrais estão agindo e aumentando a taxa de juros.
Taxa de juros
As taxas de juros, afinal, são o principal instrumento que os bancos centrais têm para controlar a inflação e a desvalorização de suas moedas. Contudo, enquanto boa parte do mundo vive um movimento de alta em suas taxas de juros, no Brasil as perspectivas são outras.
Isso acontece porque o Brasil já passou por um movimento de seguidas altas da Selic desde 2021. Por enquanto, o Banco Central está mantendo a taxa estável, apesar da pressão feita pelo Governo Federal. Para o segundo semestre, no entanto, a tendência é de que, em algum momento, a taxa de juros comece a cair levemente.
A maior parte das projeções antecipa que o Comitê irá fazer a primeira redução da Selic somente em agosto. A possível redução poderá ser acelerada pela queda de preços das commodities, pela desaceleração da atividade econômica global e, por fim, pela redução na concessão de crédito doméstico.
Dólar
Desde o começo do ano, o real vem apresentando um movimento de valorização perante o dólar. A Selic alta ajuda a atrair investidores internacionais e, com isso, a oferta de dólares aumenta no Brasil. Isso, portanto, faz com que o preço da moeda americana caia.
Boa parte das instituições financeiras ainda acham que há espaço para que o real continue se valorizando perante a moeda americana. Mas também há analistas mais pessimistas em relação ao real até o final do ano.
Essa perspectiva merece atenção especial das cooperativas que atuam com força no mercado externo, uma vez que as flutuações do dólar afetam as receitas obtidas nas exportações. O alto nível de incerteza do cenário econômico global de 2023, todavia, torna essa previsão uma tarefa bastante difícil.
Crescimento e atividade econômica
A última ata do Copom aponta que o conjunto de indicadores recentes segue corroborando o cenário de desaceleração gradual do crescimento doméstico. Um dos indícios dessa percepção é a desaceleração na margem no mercado de crédito.
Com isso, os dados de atividade no Brasil indicam um ritmo de crescimento moderado sustentado pelo setor agropecuário. Por outro lado, a manutenção da taxa de juros desacelera o comércio, sobretudo em relação aos bens duráveis de maior valor agregado, como móveis e eletrodomésticos.
Dessa forma, a economia brasileira deve seguir um movimento de crescimento de pouco ímpeto. O Ministério da Fazenda, por exemplo, estima que o crescimento da economia brasileira em 2023 será de 1,9%, apostando forte em um crescimento de 11% no agro. Os serviços e a indústria, porém, progridem timidamente.
Mercado de trabalho
O Copom prevê resiliência no mercado de trabalho até o final do ano. Após um período de desemprego acima dos 10%, o mercado de trabalho se estabilizou e completou quatro trimestres abaixo dos dois dígitos.
O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) entende que há um crescimento do emprego formal de forma mais consistente e menos errático que o do emprego informal.
Geopolítica
A guerra na Ucrânia segue sendo um fator econômico relevante para o cenário econômico global de 2023. O conflito segue indefinido e reconfigurando as cadeias energéticas e produtivas, sobretudo na Europa. Sem perspectivas para o fim do embate, o mundo segue em busca de suprir as lacunas de abastecimento dos insumos provenientes dos dois países em guerra.
Além disso, como vimos, boa parte do mundo enfrenta uma pressão inflacionária e, consequentemente, estão iniciando um movimento de alta nos juros. Um estudo do BB Assessoramento Econômico, órgão do Banco do Brasil, descreve um cenário econômico global incerto. Assim, as perspectivas para os principais polos econômicos são:
- Estados Unidos: os juros devem seguir um leve movimento de alta na economia americana até o próximo ano, com possibilidade de recessão a partir do segundo semestre de 2023. A maior economia do mundo precisa enfrentar, ainda, um cenário adverso em relação à dívida pública, o que aumenta a percepção de risco dos investidores e desvaloriza o dólar.
- China: a retomada após o fim da pandemia ainda é alvo de dúvidas, uma vez que os indicadores são ambíguos. Por um lado, o crescimento no primeiro trimestre foi maior que o esperado; por outro, os dados da indústria local são ruins e as importações foram abaixo do esperado. Isso pode significar diminuição nas oportunidades de exportação ao país asiático, que é o principal parceiro comercial do Brasil.
- Europa: o crescimento europeu deve enfraquecer no decorrer do segundo semestre de 2023, em decorrência de medidas para controlar a inflação elevada do bloco econômico. Apesar disso, o continente tem conseguido lidar com as dificuldades do setor energético ao ampliar os fornecedores de gás natural e com a adoção de outras fontes de energia.
Conclusão: de olho no cenário econômico de 2023
Ficar de olho no cenário econômico é muito importante para que as cooperativas consigam analisar os riscos e oportunidades de negócios tanto no contexto interno quanto para quem explora o mercado internacional.
Em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo, informação é poder. Portanto, manter a sua cooperativa atualizada sobre as principais perspectivas do cenário econômico faz toda a diferença.
E você sabe, então, onde encontrar análises econômicas centradas no ponto de vista do cooperativismo? Aqui, no ConexãoCoop! Periodicamente, publicamos análises econômicas sobre diversos temas relevantes para as cooperativas, como gestão, tendências de negócios e oportunidades comerciais.