As cooperativas de crédito ampliaram a participação como agentes repassadores de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A fatia das cooperativas nos repasses totais do banco de fomento alcançou uma marca inédita no ano passado. Elas representaram 13,6% dos R$ 174,5 bilhões aprovados para todas as operações de crédito.
No Brasil, as cooperativas de crédito são supervisionadas pelo Banco Central (BC) e oferecem os mesmos tipos de produtos e serviços de um banco comercial, tendo depósitos garantidos pelo Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), criado em 2014.
O país conta atualmente com 823 cooperativas de crédito e dois bancos cooperativos, segundo dados do BC. São, ao todo, cerca de 16 milhões de brasileiros cooperados e 9.122 mil agências físicas em território nacional.
No ano passado, três dos cinco maiores repassadores de linhas e programas do BNDES foram cooperativas de crédito. O Sicredi, que reúne 104 cooperativas de todos os Estados, foi o maior deles, com aprovações que somaram quase R$ 10 bilhões.
De acordo com Gustavo Castro Freitas, diretor executivo de crédito do Sicredi, o sistema conta com 7,5 milhões de associados, dos quais 75% são pessoas físicas; 14%, pessoas jurídicas; e 11%, do agronegócio. “Há muitos anos, o Sicredi é líder de repasses de linhas do BNDES para o segmento de agronegócio, mas em 2023 fomos os maiores repassadores em âmbito geral”, afirma Freitas.
“O resultado se deu por um forte crescimento em linhas de pessoa jurídica, especialmente de micro, pequenas e médias empresas”, completa o diretor.
Freitas diz ainda que 74% dos mais de um milhão de associados ao sistema Sicredi como pessoa jurídica são micro e pequenas empresas, e 22%, microempreendedores individuais (MEI). O perfil foi o que mais se expandiu no sistema nos últimos quatro anos – movimento associado à “pejotização” do mercado de trabalho com o fechamento de postos formais, sobretudo no contexto da pandemia.
Segundo Freitas, a carteira de crédito do Sicredi cresceu 21,4% em 2023, chegando a R$ 210,5 bilhões – dos quais 10% têm como fonte os recursos do BNDES.
Terceiro maior repassador de recursos do BNDES em 2023, o Sicoob conta com mais de 7,9 milhões de cooperados, dos quais 1,6 milhão são pessoas jurídicas. Francisco Reposse Júnior, diretor comercial e de canais do Sicoob, diz que a ampliação de fontes de recursos se tornou necessária com o aumento de associados. O Sicoob também notou uma mudança no perfil de cooperados.
“A gente tinha carteira mais voltada ao agro, mas as linhas destinadas a empresas subiram muito a partir de 2022”, afirma.
Para Clara Maffia, gerente de relações institucionais da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o movimento também reflete um processo de amadurecimento das cooperativas. Ela menciona importantes marcos legais e normativos aprovados nos últimos anos, como a lei complementar 130/2009.
“A atualização da lei, em 2022, e todos os desdobramentos normativos por parte do Banco Central criaram um ambiente mais adequado para o desenvolvimento das cooperativas de crédito. Hoje, o próprio BC reconhece as instituições como um pilar estratégico para a inclusão e educação financeira”, diz ela.
A atual gestão do BNDES encara as cooperativas como protagonistas na estratégia de ampliar a oferta de crédito a micro, pequenas e médios empresários.
“Quando aumentamos o repasse para bancos de cooperativas, estamos chegando nos micro, pequenos e médios empresários e agricultores”, disse ao Valor o diretor financeiro do BNDES, Alexandre Abreu.
Na divulgação dos resultados anuais, em março, a diretoria do banco de fomento informou que os maiores beneficiários do crédito em 2023 foram as micro, pequenas e médias empresas. “E isso se deu pelo aumento de participação das cooperativas”, disse.
A estratégia agora, segundo o diretor, é fomentar a expansão do cooperativismo nas regiões Norte e Nordeste, uma vez que o BNDES identificou que as cooperativas de crédito estão concentradas no Sul e Sudeste do país.
Fonte: Valor Econômico