O Sistema OCB deu início, nesta segunda-feira (26), à primeira etapa do Projeto Conhecer para Cooperar – Ramo Crédito, que visa apresentar as melhores práticas do cooperativismo de crédito no país, assim como experiências internacionais, para promover maior conhecimento sobre o modelo de negócios e propiciar maior aproximação entre o segmento e o poder público. Esta é a segunda edição do projeto. A primeira foi realizada entre os anos de 2012 e 2014, sob o nome Prospecção de boas práticas e aprendizagem experiencial em cooperativismo de crédito, e inspirou avanços significativos para o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), a exemplo da Lei Complementar 196/22, que atualizou a legislação vigente, e a constiuição do fundo garantidor.
“Este é um projeto notável que leva ao avanço do SNCC, a partir de um relacionamento de confiança. O aprendizado e a troca de conhecimentos que ele oferece alavanca a formação de redes de debates e de oportunidades fundamentais para aprimorar a base normativa e o processo de funcionamento do cooperativismo de crédito como um todo. Não tenho dúvidas de que essa segunda edição será um sucesso e trará resultados significativos novamente. Com a primeira, aprendemos tanto que conseguimos superar os modelos internacionais que eram, então, nossos exemplos”, afirmou o diretor do Banco Central, Ailton Aquino, que integrou a equipe da primeira edição.
Para o presidente Márcio Lopes de Freitas, o Conhecer para Cooperar tem como principal mérito mostrar in loco a atuação do cooperativismo crédito e os benefícios que ele proporciona em suas comunidades. “É muito gratificante estar aqui enquanto representante do cooperativismo brasileiro. Essa iniciativa aproxima a teoria da prática para ressaltar o impacto gerado pelo coop de crédito no dia a dia do cooperado e de todos à sua volta. Ele alavanca uma rede de relacionamentos importante para criar um ambiente de fomento que se transforma em referência para garantir as melhorias necessárias ao segmento”, ressaltou.
Servidores do Banco Central do Brasil (BCB), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e dos ministérios da Agricultura (Mapa) e Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA); representantes dos sistemas cooperativos, das cooperativas independentes e do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop); e integrantes do GT Executivo do Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito (Ceco), compõem o grupo que participa da segunda edição do Conhecer para Cooperar.
A primeira etapa, realizada em Brasília, contou com visitas à sede da Casa do Cooperativismo, ao Centro Cooperativo Sicoob (CCS), ao FGCoop e à Cooperforte, cooperativa de crédito independente. O projeto terá sete etapas a serem executadas até 2026 e que passarão pelas cinco regiões do Brasil e, ainda, no Canadá e Alemanha. A próxima será realizada entre os dias 11 e 15 de março, com troca de experiências em cooperativas de crédito da Região Sul.
Casa do Cooperativismo
A gerente-geral do Sistema OCB, Fabíola Nader Motta, detalhou a estrutura e as atividades desenvolvidas pela entidade, destacou números do movimento no Brasil e no mundo e abordou a importância do modelo de negócios. “O cooperativismo é o que as pessoas procuram na atualidade. Elas talvez ainda não saibam identificar essa realidade, mas, a partir de uma correlação com o consumidor contemporâneo, conseguimos identificar vários pontos de intercessão”, destacou.
Fabíola lembrou que o consumidor contemporâneo é crítico, busca valores humanos nos produtos e serviços que adquire, substitui a posse pelo uso, se preocupa com a sustentabilidade e quer conhecer a história por traz do processo de produção. “Todas essas características levam a questão do propósito que rege a existência do negócio. E o cooperativismo é, por natureza, um modelo de negócios com propósito. Está em seus princípios, o comércio justo, a economia colaborativa, o empoderamento criativo, o consumo responsável. Em resumo, o poder do coletivo que leva à prosperidade do negócio, das pessoas e das comunidades”.
A gerente-geral também falou sobre a importância do trabalho de representação institucional desenvolvido pelo Sistema OCB em defesa do cooperativismo junto aos Três Poderes, e sobre o movimento SomosCoop, que tem como objetivo tornar o modelo de negócios mais conhecido e reconhecido pela sociedade. “Todo o nosso trabalho tem como objetivo final esse reconhecimento. Quanto mais conseguirmos demonstrar os benefícios desse modelo de negócios, mais os aprimoramentos alcançamos”, complementou.
Centro Cooperativo Sicoob (CCS)
Um sistema formado por 14 centrais, 335 cooperativas singulares e 7,7 milhões de cooperados. A estrutura do Sicoob, que conta ainda com 4.609 unidades em sua rede de atendimento, o que garante presença em 42% dos municípios brasileiros, foi apresentada por Marco Aurélio Almada, diretor-presidente do sistema. Na visita ao CCS, os participantes do projeto também conheceram a história do cooperativismo de crédito no mundo e no Brasil, bem como os detalhes da evolução do SNCC.
Em sua fala, Almada buscou responder quais são as principais diferenças entre as cooperativas e as instituições financeiras tradicionais. “O cooperativismo gerencia e alinha interesses. Não é controlado pelo capital. Ou seja, 50% mais um não é nada. É uma sociedade de pessoas e, como tal, busca a maximização do retorno para seus sócios e não do lucro. Alavancamos o sócio como indivíduo e temos compromisso com o desenvolvimento do cooperado. Além disso, não dependemos do Estado, mas somos um agente de política pública virtuoso, que está sempre presente, tantos nos bons momentos quanto nos difíceis”, descreveu.Para ele, o projeto Conhecer para Cooperar é fundamental para que o cooperativismo possa entregar o seu melhor à sociedade. “Temos a ambição de fazer e desenvolver mais, mas não conseguimos sozinhos. Sem a colaboração e o entendimento do poder público, sem a regulamentação correta, a abordagem e a supervisão adequadas, ficamos aquém do que é possível. Então, essa iniciativa é fundamental para reunir esse conjunto de pessoas de diferentes frentes que querem a mesma coisa, ou seja, um país melhor. É uma oportunidade única, que diferencia o Brasil de outros países. Essa abertura com o poder público é fantástica”, considerou.
FGCoop
A visita ao Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) reservou momentos esclarecedores sobre o histórico, estrutura e processo de funcionamento da entidade. Criado em 2014 e regulado pelo Banco Central, o fundo tem como diferencial, de acordo com o diretor-executivo Adriano Ricci, uma atuação preventiva e próxima de seus associados. “Nossa missão é proteger os depósitos, mas sempre desejamos que ela não se concretize, uma vez que somos acionados apenas em caso de problemas insolúveis. O que realmente importa é contribuir para que as cooperativas de crédito e os bancos cooperativos mantenham-se íntegros e em plena saúde financeira. Por isso, prevenir é sempre fundamental”, afirmou.
Atualmente, o FGCoop mantém em sua carteira de associados dois bancos cooperados, quatro confederações, 30 centrais e 615 cooperativas singulares. O patrimônio social supera os R$ 4 bi e o percentual de cobertura é de 52%. “Formamos uma rede integrada de proteção. Para isso, realizamos um monitoramento constante da situação de cada associado para evitar a ocorrência de problemas extremos, que possam ocasionar a intervenção ou liquidação extrajudicial. Nesse processo, confiança é a palavra-chave. Melhorar e merecer essa confiança é a base sobre a qual buscamos construir um sistema sólido e em contínuo crescimento”, acrescentou Ricci.
O presidente do fundo, Luiz Antônio de Araújo, falou sobre a importância do Conhecer para Cooperar. “Historicamente, o cooperativismo de crédito sempre teve três grandes desafios. Dois já foram superados com a criação de um normativo adequado e do FGCoop. O terceiro, que é ser mais conhecido e reconhecido pela sociedade ainda permanece. Projetos como esse são fundamentais para alcançarmos mais esse objetivo. É preciso que o brasileiro conheça e saiba como funciona uma cooperativa de crédito para poder aproveitar efetivamente os benefícios que ela oferece”, salientou.
Cooperforte
As particularidades e desafios das cooperativas de crédito singulares independentes (não filiadas a centrais) foram temas abordados durante a visita a Cooperforte – Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo de Funcionários de Instituições Financeiras Federais. Kedson Macedo, diretor-executivo de Relacionamento Interno, detalhou o cenário atual do segmento no Brasil. “Das 771 cooperativas de crédito singulares existentes hoje, 212 são independentes que somam em ativos totais mais de R$ 20 bi. A representação desse grupo no SNCC, também em ativos totais, é de 3,2%”, explicou. Entre os principais desafios do segmento, Kedson citou a transformação digital e a intercooperação.
Fundada há 40 anos, a Cooperforte congrega 151 mil associados e soma R$ 3,2 bil em ativos totais. “Nossa atuação é baseada em ajuda mútua, equidade e solidariedade. Nosso modelo é muito simples e nossos associados recorrem aos serviços sempre no formato virtual. Os produtos oferecidos são voltados para a concessão de diferentes tipos de crédito e possibilidades de investimentos. Para 2024, nosso foco será disponibilizar os serviços de conta corrente”, destacou o diretor-presidente, Edson Machado Monteiro.
Para ele, aproximar o cooperativismo de crédito do poder público, como propõe o Conhecer para Cooperar, é fundamental. “Mostrar nos benefícios desse modelo de negócios para as mais diversas instâncias, para reguladores e autoridades que formulam as políticas públicas contribui para aprimoramento das atividades e permite que alcancemos resultados cada vez mais significativos”.
Fonte: Somos Cooperativismo/Sistema OCB