É difícil encontrar uma conversa sobre o cooperativismo em que a pauta ESG não acabe sendo citada. Para quem está entrando nesse universo, a intensidade da relação entre esses dois conceitos surpreende. Mas para quem já está habituado aos princípios desse sistema, fica claro que o cooperativismo sustentável é um caminho definitivo.
Com tantos valores em comum, a união entre sustentabilidade e cooperativismo é inevitável. Afinal, ambos visam o cuidado com as pessoas e os ambientes, bem como enxergam alternativas de menor impacto como prioridade nos fluxos de trabalho.
Mas será que é possível acompanhar a agenda ESG e, ainda assim, alcançar crescimento e estabilidade diante do mercado? Será que, mesmo em tempos de concorrência tão intensa, as cooperativas estão conseguindo cuidar do meio ambiente e fazer bons negócios?
Te convidamos a pensar com a gente sobre esse tema e entender o protagonismo do cooperativismo na primeira letra da sigla ESG. Vamos lá?
Cooperativismo sustentável para além da causa: a oportunidade de destaque no mercado.
Já se foi o tempo em que a sustentabilidade era opcional para os negócios. Hoje em dia, com mudanças climáticas preocupando os consumidores e com o excesso de dejetos causando problemas, o público quer saber de ações práticas.
Segundo a pesquisa “Global Human Capital Trends”, feita pela Deloitte em 2019, 86% dos entrevistados consideraram a sustentabilidade uma prioridade importante para as suas organizações.
Dados como esse comprovam algo que já foi percebido pelo cooperativismo há muito tempo: os consumidores reconhecem e valorizam a responsabilidade de empresas que se comprometem a cuidar do meio ambiente.
Por isso, ao invés de investir milhões em um marketing que apenas fala dos benefícios da sua marca, que tal inovar com soluções práticas e funcionais que vão falar por si mesmas? Pois é: o cooperativismo sustentável tem esse diferencial em sua essência.
O cooperativismo sustentável como fonte de valor para negócios
Existe algo muito interessante sobre os planejamentos sustentáveis: eles funcionam. Os esforços feitos com essa base, além de reforçarem o seu compromisso com a pauta, também vão gerar resultados muito positivos ao seu desempenho.
Estamos falando de um ciclo. O que faz bem para a imagem da marca também traz benefícios que podem ser convertidos em novas ações e vice-versa. E nesse jogo em que todo mundo ganha, a sua cooperativa vai aumentando seu valor agregado.
Quando você já tem um posicionamento enquanto cooperativa sustentável, pode passar a pensar em estratégias ainda mais impactantes, tal como o mercado de carbono.
Cooperativismo sustentável explora mercado de créditos de carbono
Trata-se de um sistema que compensa as emissões de carbono, transformando-as em uma espécie de moeda. Se uma cooperativa não conseguiu atingir suas metas projetadas, ela pode comprar créditos de outras instituições que tiveram êxito nisso.
Essa lógica elimina as clássicas desculpas de que “em um determinado segmento, não há tecnologia suficiente para reduzir as emissões de carbono”. Se você ainda não conseguiu, pode cumprir com a sua palavra investindo no crescimento de especialistas nisso.
A Ceriluz, uma cooperativa de energia gaúcha, mostrou que isso já é realidade. Com dois projetos credenciados pela ONU para negociar créditos de carbono, ela está ajudando negócios do mundo todo a compensar suas emissões e respeitar a agenda ESG.
Cooperativismo sustentável lidera produção agropecuária verde
É claro que a agropecuária também faz parte desse movimento. Ela é, inclusive, um dos segmentos mais importantes nesse sentido, já que envolve demandas que, quando não são manuseadas direito, podem impactar negativamente o meio ambiente.
O cooperativismo sustentável brasileiro é um pioneiro nisso, e a recente participação na COP27 é uma grande evidência. No evento, o movimento cooperativista nacional participou de discussões acerca das mudanças climáticas, do desmatamento e até mesmo de investimentos que podem reduzir os danos ao nosso planeta.
Só que as iniciativas em prol de um cooperativismo sustentável no campo não ficam só na teoria, quer ver?
Coprodia: cooperativismo sustentável como valor fundamental
A Coprodia, cooperativa agrícola do Mato Grosso, já nasceu dando destaque às práticas ESG – mesmo antes de essa sigla existir. Focada na produção de açúcar e etanol, ela utilizou a inovação como fonte de combustível para conquistar suas metas e, ao mesmo tempo, gerar uma influência positiva nas comunidades que a cercam.
Esse é um ótimo exemplo de como a responsabilidade social e ambiental contribui para os negócios. Afinal, a Coprodia está entre as 100 maiores empresas do agronegócio brasileiro, produz cerca de 180 milhões de litros de etanol e 2,7 milhões de sacas de açúcar por ano e é referência na agropecuária 4.0.
CAMTA: exportando ideias e produtos
Outra grande inspiração é a forma como a CAMTA impulsionou exportações através do cooperativismo sustentável. A instituição foi fundada em 1922 por imigrantes japoneses com foco na produção e colheita de pimentas, cacau, hortaliças e arroz.
Mas a grande inovação está na criação de um modelo exclusivo de agricultura sustentável, que ganhou o nome de Sistema Agroflorestal de Tomé-Açu (SAFTA). A ideia é simular uma floresta nativa para aumentar o aproveitamento do cacau.
Não foi fácil: foi preciso buscar certificações para que a cooperativa pudesse enfrentar os desafios climáticos e se destacar. Mas o esforço valeu a pena, já que hoje ela exporta para Argentina, Japão, Estados Unidos, Alemanha, França e Israel.
Mesmo com tanto crescimento, a qualidade e a sustentabilidade ainda são prioridades da CAMTA, que está sempre pronta para diversificar seu catálogo e melhorar suas entregas.
Cooperativas de reciclagem: sustentabilidade e impacto social
A logística reversa também está inclusa na lista de vantagens do cooperativismo sustentável. É comum ouvirmos falando de iniciativas de reciclagem nesse sistema de empreendedorismo, e isso não acontece à toa. Tudo faz parte de um compromisso global.
Case Centcoop: melhorando a vida de pessoas com inteligência de trabalho
A Centcoop nasceu em 2006, no Distrito Federal, como uma congregação entre 21 cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis. A ideia era otimizar a produtividade e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade de vida de milhares de trabalhadores.
O caminho escolhido foi a intercooperação, que permitiu a compra de um galpão próprio e com condições adequadas para a coleta seletiva da região. Apesar das dificuldades para se manter autossustentável, a Centcoop se esforça para formalizar os empregos do segmento e luta contra as mudanças climáticas.
Case Recicle a Vida: mantendo as pessoas em primeiro lugar.
Enquanto muitas empresas visam o lucro como prioridade, a Recicle a Vida (cooperativa fundada em 2005 no Distrito Federal) tem como lema a ideia de que “pessoas estão em primeiro lugar”.
Além de beneficiar o ambiente com o descarte adequado de toneladas de dejetos, o foco também está em transformar as vidas de pessoas envolvidas. Indivíduos que não tinham assistência alguma, agora passam a fazer parte de um grupo que apoia, estimula e incentiva o crescimento pessoal e profissional.