O interesse pela comunidade é um dos princípios que regem o cooperativismo. E isso se dá com um trabalho voltado ao desenvolvimento sustentável dessas comunidades, por meio do investimento em projetos economicamente viáveis, ambientalmente corretos e socialmente justos. Um dos ramos que vem sendo protagonista nesse trabalho é o Crédito. Nos últimos anos, essas instituições vêm se destacando ao oferecer linhas de financiamento com foco em sustentabilidade e desenvolvimento, ajudando a impulsionar iniciativas que melhorem a qualidade de vida dos cooperados e suas famílias e dos locais onde atuam.
De forma geral, essas linhas de crédito contam com taxas de juros e condições de pagamento mais favoráveis do que outras linhas existentes no mercado. Elas têm como foco principal pequenos empreendedores e agricultores familiares, além de pessoas físicas, e são voltadas a diversas atividades com foco em sustentabilidade e desenvolvimento.
Existe, por exemplo, financiamento para agricultura sustentável, para apoiar os produtores a adotarem práticas sustentáveis, como agricultura orgânica, agroecologia, tecnologias de agricultura de baixo carbono e conservação de recursos naturais. Também é possível ter acesso a recursos para levar água tratada e esgoto a residências que ainda não contam com esses serviços.
Há, ainda, linhas de crédito para energias renováveis, que financiam, por exemplo, a instalação de painéis solares, biodigestores (biomassa), turbinas eólicas ou outras tecnologias. E para eficiência energética, possibilitando a compra de eletrodomésticos e máquinas mais modernas e que consumam menos energia.
“No âmbito das cooperativas de crédito, toda operação tem como foco a sustentabilidade, seja de um pequeno ou um médio empreendimento, seja de uma pessoa física”, destaca Moacir Krambeck, coordenador do Conselho Consultivo Nacional do Ramo Crédito do Sistema OCB (Ceco) e presidente da Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito (Confebras). “Afinal, o objetivo é fazer com que o tomador tenha mais qualidade de vida e não que ele se endivide. Que um negócio seja rentável, que uma pessoa que esteja, por exemplo, em um momento de dificuldade possa sair dessa situação da melhor maneira possível. E essas linhas específicas para sustentabilidade e desenvolvimento vieram para somar”, afirma.
Krambeck destaca que as cooperativas de crédito vêm ampliando as linhas com esse foco e que a tendência é que continue havendo crescimento. “Principalmente nos últimos dois anos, isso tem sido mais forte. As cooperativas estão abrindo cada vez mais espaço para financiar projetos com essa pegada e que tragam benefício coletivo”, observa. “Não tenho a menor dúvida de que isso vai aumentar ainda mais. Nós, do Ramo Crédito, queremos ampliar as ações com foco nos critérios ESG, de ambiental, social e governança. Isso está em nosso DNA e temos que disponibilizar para a sociedade como um todo”, completa.
ÁGUA E ESGOTO
Uma cooperativa que tem impactado positivamente a comunidade em que atua por meio de linhas de crédito voltadas ao desenvolvimento e à sustentabilidade é a Viacredi, do Sistema Ailos, que atua em 25 cidades do estado de Santa Catarina e 5 do Paraná. A instituição conta com a linha Saneamais, que financia ações voltadas ao acesso a água tratada e a rede de esgoto. A iniciativa surgiu em 2022, após uma parceria com a Water.org, organização internacional fundada pelo ator Matt Damon e pelo engenheiro Gary White com atuação em 11 países da África, Ásia e América Latina.
“A Water.org é uma instituição com foco em levar, de forma acessível, água e saneamento para países pobres ou em desenvolvimento. Eles já atuavam no Brasil há alguns anos, mas nunca tinham trabalhado com uma cooperativa de crédito. E, em 2021, eles nos procuraram para estabelecer uma parceria para a criação de uma linha específica que se tornou a Saneamais. E, no ano seguinte, já a colocamos em funcionamento”, conta Sheyla Hennich Mendonça, especialista em Negócios da Viacredi.
A Saneamais permite que cada pessoa física financie até R$ 20 mil, sendo R$ 10 mil para abastecimento de água e R$ 10 mil para esgoto, com taxa de juros entre 1,46% e 2,19% ao mês e pagamento em até 48 meses. Desde a criação, já foram feitos cerca de 3 mil contratos de financiamento por meio dessa linha, beneficiando diretamente mais de 9,3 mil pessoas.
Entre as atividades financiáveis estão reforma de banheiro, compra ou troca de caixa d’água ou de hidrômetro, construção de caixa de gordura, limpeza ou construção de fossa séptica, construção de poço artesiano, manutenção de encanamento, reaproveitamento de água de chuva e contratação de mão de obra especializada.
“Santa Catarina é um estado com um dos maiores índices de câncer no País e uma das razões é o baixo índice de tratamento de esgoto. Então, há uma necessidade muito grande de melhorar essa situação e a Saneamais vem exatamente nesse sentido”, afirma Sheyla. “Nossa meta inicial era fechar, em média, 120 contratos por mês e acabamos fazendo 150. Há bastante interesse e nossa perspectiva é de que essa linha continue crescendo”, observa.
Um dos contratos de financiamento da Saneamais foi assinado pelo casal Nelson e Valdirene Hofelmann, da cidade de Benedito Novo, em Santa Catarina. Por muitos anos, Nelson trabalhou como pedreiro para sustentar a família e, há cerca de um ano, decidiu ter seu próprio negócio e montar uma pequena barraca de caldo de cana e pastel.
Hoje, os dois trabalham juntos na barraca e vêm fazendo bastante sucesso na comunidade. Com isso, puderam realizar o sonho de construir sua própria residência. Com a obra iniciada, foi preciso obter recursos para fazer o banheiro e colocar a fossa, o filtro e a caixa d’água.
Nelson, então, pediu um empréstimo de R$ 10 mil à Viacredi em agosto de 2022. O financiamento está sendo pago em 48 parcelas de R$ 314,64. O material para a obra já foi comprado e o serviço, finalizado. “Se não fosse a Viacredi, seria impossível realizar esse sonho”, conta Nelson.
ENERGIA SUSTENTÁVEL
A instalação de fontes de energia sustentáveis é outra iniciativa que conta com linhas de crédito específicas em diversas cooperativas, como a própria Viacredi, que financia a instalação de sistemas de energia fotovoltaica e eólica.
Quem também oferece crédito com esse objetivo é o Sistema Unicred. A instituição conta com uma linha específica para geradores solares, permitindo a implantação e expansão de painéis fotovoltaicos em diferentes localidades, como comércios, residências, hospitais, clínicas e indústrias, entre outros. Além de taxas de juros competitivas, os tomadores de crédito têm acesso a consultoria especializada em projetos solares, garantindo a correta implementação e maximização da eficiência dos painéis fotovoltaicos.
Já o Sicredi conta com duas linhas específicas para energia sustentável, uma voltada apenas a energia solar e outra com foco em outras fontes renováveis, como eólica, hídrica e de biomassa. A instituição conta, ainda, com uma linha voltada à eficiência energética, que permite o financiamento de diversos recursos necessário à realização de projeto para redução do consumo de energia, como aquisição e instalação de eletrodomésticos, máquinas e equipamentos mais modernos e eficientes e também a realização de obras civis com essa finalidade. As três linhas são voltadas tanto a pessoas físicas quanto jurídicas e têm prazo de pagamento de até 120 meses.
BAIXA EMISSÃO DE CARBONO
Outra linha de crédito voltada à sustentabilidade operada pelo Sicredi é a ABC Sicredi, voltada à economia verde e à redução da emissão de carbono na agropecuária. A instituição também opera o programa RenovAgro, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que busca aumentar a produtividade em bases sustentáveis e adequar as propriedades rurais à legislação ambiental.
O programa RenovAgro é dividido em linhas selecionadas para cada necessidade do agronegócio, como Sistema de Plantio Direto (SPD), Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), recuperação de áreas e pastagens degradadas, florestas plantadas, fixação biológica de nitrogênio, tratamento de dejetos animais, sistemas orgânicos de produção e adequação das propriedades rurais frente à legislação ambiental. Podem ser financiados até 100% dos projetos que proporcionam o crescimento da rentabilidade do agronegócio aliado a um processo produtivo sustentável. O prazo de pagamento varia de 5 a 12 anos, a depender da modalidade, com taxas de juros entre 7% e 8,5% ao ano.
Fonte: SomosCoop