À medida que as múltiplas crises enfrentadas pelo mundo – incluindo a desigualdade econômica, a erosão dos direitos trabalhistas e a ascensão do populismo autoritário – se aprofundam, uma série de livros e estudos, têm apresentado o modelo cooperativo como um caminho pronto para uma nova economia sustentável e equitativa.
Trebor Scholz, autor de “Own This!”, se concentra no trabalho de plataforma na era digital; como líder do movimento de cooperativas de plataforma, e apresenta uma análise cuidadosa e intensamente pesquisada das questões em pauta.
Scholz traça um retrato nítido da economia de plataforma em que “os métodos de vigilância do local de trabalho são muito mais invasivos do que os do início do século XX – digamos, nos armazéns da Amazon, onde a localização de um trabalhador é conhecida o tempo todo”.
A esperança, diz ele, vem na forma de “modelos cooperativos que oferecem um escudo parcial, mas prontamente disponível para os trabalhadores”. Essa solução – que já está sendo testada em todo o mundo por meio do crescente movimento de cooperativas de plataforma – oferece um futuro em que as pessoas têm maior controle sobre a economia digital por meio da propriedade de seus aplicativos, plataformas e protocolos. Scholz sugere ideias como “uma plataforma de carona liderada por uma federação que utilize não apenas seu know-how tecnológico, mas também seu poder de convocação para apoiar cooperativas de trabalhadores de motoristas de táxi em escala global”, ou comunidades de cidades do interior que implementem uma infraestrutura cooperativa de internet de alta velocidade para acabar com a exclusão digital.
Essas noções são particularmente importantes em setores como o de assistência social, com uma população cada vez mais idosa a ser cuidada, e o trabalho doméstico, em que um grande grupo de mulheres e trabalhadores sem documentos correm o risco de exploração. Como é o exemplo da Up & Go, uma plataforma digital de propriedade de um trabalhador no Brooklyn, Nova York, cujos trabalhadores ganham US$ 25 por hora, mais do que o dobro dos US$ 11 que poderiam esperar por meio de canais convencionais.
Para disseminar esses benefícios, ele sugere “um ecossistema global de cooperativas de plataforma (…) em que as plataformas de trabalho, a mídia social e a infraestrutura da Web operem em perfeita sincronia. As plataformas de trabalho funcionam como geradoras, enquanto a mídia social e outras plataformas da Internet atuam como circuitos, todas orientadas por princípios cooperativos, trabalhando em prol de uma Internet mais justa e democrática”.
Tudo isso é muito bom, mas a próxima pergunta é: como chegaremos lá?
Parte da resposta, segundo ele, vem da própria nova tecnologia: blockchains, criptomoedas, Web3 e organizações autônomas descentralizadas (DAOs) oferecem maneiras de “repensar as cooperativas tradicionais e a forma como as start-ups de tecnologia funcionam”.
Isso poderia exigir uma reformulação da cooperação, argumenta ele. Como os coletivos tecnológicos “exploram e experimentam os princípios cooperativos” e os mercados de trabalho mudam online, a Aliança Cooperativa Internacional (ACI) “deve, corajosamente, abraçar a transformação tecnológica”. A ACI, diz ele, pode “promover e apoiar ativamente os experimentos destinados a estabelecer a identidade cooperativa na economia digital. Isso inclui a negociação de padrões de dados para uma cooperativa mundial de dados comuns, começando, talvez, no setor agrícola”.
Há outras questões, como a escala: Scholz relembra a campanha mal sucedida para mutualizar o gigante da tecnologia Twitter, dizendo que a aquisição da plataforma por Elon Musk ressalta a necessidade de controle democrático da mídia social. Ele sugere que, por enquanto, a criação de alternativas cooperativas menores é uma meta mais viável.
Em termos mais amplos, diz ele, a replicação de modelos de cooperativas bem-sucedidas, ou a construção de federações de cooperativas nos moldes da Mondragon, da Espanha, e da SEWA, da Índia, é mais realista e propícia ao controle dos associados do que tentar criar uma cooperativa do tamanho da Amazon.
Há também barreiras culturais, com países como os EUA precisando mover a janela de Overton da opinião para que as cooperativas sejam mais amplamente vistas como uma opção séria. Ele apresenta esse problema como uma questão vital: “Será que toleramos a concessão do controle de aspectos vitais de nossas vidas, como saúde, fornecimento de alimentos, sistemas de transporte e educação, a um punhado de corporações? A resposta retumbante é não, o que nos obriga a garantir que os gigantes da tecnologia sejam responsabilizados pelas regulamentações antitruste e a reconhecer as cooperativas como um antídoto viável.”
Fonte: Coop News