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Fórum ABDE: Sistema OCB media painel sobre empregos verdes e transição inclusiva

O Sistema OCB foi convidado a contribuir com o ciclo preparatório para o 8º Fórum do Desenvolvimento, promovido pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE). O coordenador de Meio Ambiente e Energia, Marco Morato, mediou a rodada de conversa do painel Empregos verdes: o trabalho na transição justa e inclusiva, nessa quarta-feira (26), que contou com a participação de representantes da Organização Internacional do Trabalho (OIT), do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e do Banco do Nordeste.  O cenário da industrialização verde se soma às ações para uma economia de baixo carbono e pode refletir na geração de novos empregos, segundo os convidados.

“Esse debate é fundamental para que a gente desenhe o caminho do futuro. A economia verde, a Agenda 2030 e a transição justa e inclusiva no trabalho estão intimamente relacionadas e formam estruturas basilares para o desenvolvimento sustentável. Essa sinergia é essencial para o equilíbrio entre o crescimento econômico, a inclusão social e a proteção do meio ambiente. O nosso desafio é fazer isso sem deixar ninguém para trás. Essa iniciativa envolve garantir que os trabalhadores afetados pelas mudanças na economia na transição dos setores altamente poluentes para os setores mais sustentáveis sejam apoiados e tenham empregos de qualidade”, enfatizou Morato na abertura do painel.

O diretor da OIT, Vinícius Pinheiro, destacou o contexto desafiador em que o mundo vive no legado da pandemia da Covid-19, que demonstrou a vulnerabilidade das nações e, por outro lado, acelerou mudanças nos mercados, na produção de bens e serviços, no consumo, nos investimentos e no trabalho. “Essas novas dinâmicas de transformações estão causando mudanças sem precedentes na forma de trabalhar e as relacionadas com a questão climática vem acompanhadas por eventos extremos. As ondas de calor é um exemplo disto. Isso tem um impacto substantivo sobre as condições de trabalho e níveis de produtividade. Para se ter uma ideia, o estresse relacionado ao calor vai provocar uma perda de 2,2% da produtividade em termos de horas trabalhadas em todo o mundo. Isso equivale a 80 milhões de empregos destruídos por conta das mudanças climáticas”, alertou o diretor.

Pinheiro falou ainda sobre as tendências diante deste cenário. O impacto no segmento de inovação tecnológica e da digitalização, bem como os desafios de inclusão e transformação diante de novos modelos de negócios e distribuição de renda foram citados por ele. Para lidar com essas situações, a OIT recomenda primeiramente a promoção da justiça social. “Na última Conferência Internacional do Trabalho se acordou um conceito do que é transição justa. Esse conceito se expandiu e tivemos representantes de 190 países que disseram que transição justa consiste em promover economias ambientalmente sustentáveis de maneira inclusiva mediante a criação de oportunidade de trabalho decente e redução das desigualdades sociais, sem deixar ninguém para trás. A medida em que as matrizes são modificadas, alguns empregos são extintos e outros criados. Para o Brasil, o novo cenário traz um saldo de criação de 15 milhões de empregos”, complementou.

A diretora-executiva do Instituto Clima e Sociedade (ICS), Maria Netto, considerou que o tema finanças verdes traz a necessidade de promover investimentos sustentáveis. “Infelizmente o cenário atual demonstra que está difícil chegar nas metas estabelecidas para 2030, especialmente sobre o aumento da temperatura. Hoje há 66% de possibilidade que não atingiremos, pois já está subindo”, explicou a diretora.

O tema competitividade internacional foi frisado por ela, juntamente com as oportunidades para que o Brasil se consolide como líder mundial nesta transição. “Nos EUA há um importante programa de subsídios para reduzir a inflação e recuperar a economia no segmento da economia verde. Por outro lado, a União Europeia atua com estes subsídios e outros sistemas de tarifas e fronteiras para promover os produtos verdes e a produção mais limpa. Neste contexto, o Brasil tem oportunidades reais. É a maior nação do mundo com potencial de recursos naturais para a produção da energia limpa e outras soluções baseadas na natureza para a redução da emissão de gases”, salientou Maria Netto.

De acordo com ela, quando se fala do setor industrial, o Brasil também é protagonista. “É a indústria mais limpa do mundo, mais que a europeia, que a americana, isso sem falar da indiana e chinesa. Só que somos ruins em vender e apresentar esses diferenciais. Qualquer caneta brasileira é mais limpa se comparada a outra fabricada no mundo. Então, podemos utilizar nossos ativos sustentáveis para criar cadeia de valor e gerar trabalho e emprego, valorizando esses processos por meio de selos. Além disso, temos um enorme potencial para a indústria de biocombustíveis, que também lideramos, mas perdemos muitas oportunidades”, considerou.

Maria Netto atentou que o país terá visibilidade global nos próximos dois anos, pois sediará importantes eventos como a reunião do G20 e a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). “Estes dois eventos vão dar uma atenção enorme para o Brasil. Minha provocação é como fazer a agenda de reindustrialização verde? Onde financiar e o que priorizar, energia solar, eólica ou de hidrogênio verde? Como criar cadeias de valor entorno dessas energias? Como podemos modelar instrumentos financeiros para alavancar o que já temos? Afinal 80% da nossa matriz energética já é renovável”, concluiu a diretora.

Para o economista-chefe do Banco do Nordeste, Luiz Esteves, a combinação de fatores geopolíticos abre uma janela de oportunidades para a economia brasileira no que diz respeito ao protagonismo do país na transição. “Já começamos a receber investimentos, inclusive para hidrogênio verde e mais especificamente para a exportação dele. Temos como fazer uma estratégia mais sofisticada para aproveitar essas vantagens competitivas que o país apresenta. E isso passa por um conjunto de fatores, entre eles, termos um arcabouço para lidar com o mercado de carbono. Essa questão começa a tramitar em agosto, mas, como é um processo legislativo, não será rápido. Fato é que já poderíamos ter feito isso antes, o arcabouço é um incentivo fundamental também para termos segurança jurídica”, ponderou.

Fórum do Desenvolvimento 2023: A rodada integra o ciclo que antecede o 8º Fórum do Desenvolvimento 2023 promovido pela Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE). O encontro tem apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), patrocínio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) e da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD). Conta ainda com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Fonte: SomosCooperativismo