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Artigo: Os planos de saúde estão vivos

Aprendi nos bancos da velha Faculdade de Medicina da Praia Vermelha que um diagnóstico definitivo se chega a partir da formulação de hipóteses diagnósticas, quando então por análise e eliminação chegamos ao diagnóstico. Esse artigo propõe-se a apresentar um diagnóstico diferencial sobre a crise dos planos de saúde.

Preliminarmente deve ser dito que o SUS foi gestado dentro do Ministério da Saúde sob a assessoria da Fiocruz e ambas as entidades mantiveram para seus funcionários a saúde suplementar o primeiro através da GEAP e o segundo pela FIOPREV e isso aparenta ser um contrassenso.

Criar um sistema de saúde pública para si e outro para a população.

Podemos aferir então que a Saúde Suplementar sobrevive porque os diversos governos desde a Constituição não conseguiram prover um sistema de saúde de qualidade para o brasileiro.

É justamente na má qualidade que o SUS entrega a população que a Saúde Suplementar sobrevive e que faz com que seja objeto de desejo dos diversos segmentos sociais, que vão desde os sindicatos de trabalhadores, aos empresários de todos os ramos de atividade econômica.

Em alguns países os empregados podem escolher para quem querem contribuir, se para a saúde pública ou para a saúde privada.

Já pensaram se isso fosse possível no Brasil?

Podemos afirmar que o governo não edifica a Saúde Suplementar, mas desconstrói o SUS por uma ausência de financiamento e sim, a medicina é cara e tende a ficar cada dia mais cara.

Por outro lado, pensar sistemicamente em um ambiente em que os contratos são diariamente desrespeitados pelo poder judiciário, num ambiente em que a ciência atuarial é desprezada com o aumento quase que diário da cobertura contratada em termos de procedimentos e terapia sem a contrapartida financeira, é um cenário inexistente em nenhum outro país.

Os planos de saúde buscam resultados, mas não resultados rápidos, pois resultado rápido não garantem a sobrevivência e temos conhecimento primário que mais importante que o lucro desenfreado é a perpetuidade da empresa.

O sistema busca soluções nos diversos modelos, nos mais diversos países, mas alguém tem dúvida que se um cliente comprar um plano de saúde com atenção primária e ele quiser ir em um especialista sem passar pelo clínico e for negado, ele vai ao judiciário e ganha uma liminar para consultar-se com quem quiser e o plano de saúde é condenado ao pagamento de um dano moral de dez mil reais. Assim sendo, estamos presos ao modelo atual pelas características do poder público.

Outro fator que merece ser realçado, é a incorporação acrítica que é feita na saúde. Primeiramente o medicamento é aprovado pela ANVISA e autorizada a sua venda e depois é analisado pelo CONINTEC. Quando o CONITEC não recomenda sua incorporação, ele já está na praça, sendo prescrito por médico através muitas vezes de pressão do fabricante.

Então, ao ser negada a cobertura, ele obtém juridicamente tratamentos de eficácia duvidosa a um custo que ultrapassa um milhão de reais.

Outra falácia é a utilização pelo do cliente do plano de saúde do SUS, como se o SUS desse um atendimento superior ao plano de saúde. Foge a lógica esse argumento, mas apenas pelo amor ao debate, é direito líquido e certo do cliente do plano de saúde a utilização do SUS, que é pago com o seu imposto.

Não há que se discutir esse ponto.

Quantos aos dirigentes supor que uma empresa como a United Heath, o Bradesco, a SulAmérica, Prevent Senior e outros possuem dirigentes não capacitados para gestão, para gerenciar um programa de crônicos, criarem um programa de medicina preventiva parece pouco razoável.

A Unimed possui uma faculdade com registro no MEC para capacitação de seus dirigentes e funcionários, com cursos tecnológicos, graduação, pós-graduação, com um núcleo de pesquisa.

O número de operadoras com projeto de prevenção em saúde registrado na ANS comprova a importância que os planos de saúde dão ao tema.

Chegamos então à ANS e aí aumento as críticas já feitas. Com um número absurdo de normativas e instruções, cerca de duas por mês desde a sua fundação, sujeita a pressão do poder legislativo, com critérios nitidamente políticos na nomeação de seus dirigentes, está totalmente perdida nessa tempestade.

Concluindo, se alguns dos pontos apontados acima forem corrigidos a saída da crise fica mais fácil, mas o sistema não aceita a culpa da crise da Saúde Suplementar.

Gilson de Souza Lima -Dirigente do Sistema Unimed há 30 anos; Extensão Universitária em Gestão Empresarial pela FGV; Extensão Universitária em Gestão Hospitalar pela UERJ; MBA Gestão de Qualidade Total pela FGV; Especialista em Gestão em Saúde pela FIOCRUZ; Mestre em Gestão de Sistemas de Saúde pelo Inst. Univ. de Lisboa