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Cooperativismo e economia circular têm tudo a ver

Tanto a economia circular quanto o cooperativismo têm o compromisso com o futuro das pessoas e do planeta, pautando suas decisões pela ética e pela sustentabilidade. Mas antes de mostrar as semelhanças existentes dessas duas formas de pensar a economia, é importante alinhar nosso entendimento sobre o que é a economia circular.

Uma maneira bem fácil de explicar esse conceito é pensando no ciclo de vida de quase todos os produtos que consumimos. Eles têm começo, meio e fim, que poderiam ser dispostos em uma linha reta.

Veja o caso do cafezinho-nosso-de-cada-dia. Tudo começa no plantio do pé de café, que precisa ser cuidado pelo cafeicultor com cuidado para não ser destruído por pragas, intempéries ou falta de água. Depois de colhido, seco, torrado e selecionado, ele é enviado para indústria, onde é processado, embalado e enviado às gôndolas dos supermercados. Nós, consumidores, levamos o produto para casa, nos deliciamos com ele e, depois, jogamos a embalagem no lixo — aumentando a quantidade de resíduos sólidos no planeta. Essa linha se repete para cada produto que adquirimos; e essa produção exige a exploração constante de recursos em um processo que está esgotando o planeta.

De acordo com um estudo da WWF, se mantivermos o padrão atual de consumo, a humanidade precisará de mais de dois planetas Terra em 2050, porque não há terras e águas produtivas suficientes para acompanhar o ritmo de exploração atual. O problema é que não há, pelo menos por enquanto, outro planeta disponível. A única solução possível é mudar urgentemente a forma de produzir e consumir.

Uma das saídas para essa crise de disponibilidade é juntar as pontas da linha do processo clássico de extração-produção-uso-descarte, e formar um círculo. A imagem que se forma é justamente o que dá nome à economia circular, conceito que propõe uma mudança na maneira de produzir e consumir, buscando o aproveitamento total de todos os componentes da cadeia: da matéria-prima aos resíduos.

A ideia é repensar a forma de pensar, produzir e comercializar produtos para garantir o uso e a recuperação inteligente dos recursos naturais. O conceito prevê novos modelos de negócios e a otimização de processos já existentes para reduzir a exploração de matéria-prima e transformar em insumos o que antes eram considerados resíduos, em um círculo virtuoso de reaproveitamento.

SEM RESÍDUOS

Reduzir, Reciclar e Reutilizar. Esses 3Rs não traduzem por completo a ideia da economia circular, que busca estabelecer um modelo de produção onde não existam resíduos, ou seja, onde todos os insumos de um produto sejam 100% utilizados ou reaproveitados. Quer um exemplo?

Na moda, setor em que o descarte é um problema global, com 50 milhões de toneladas de roupas jogadas no lixo todos os anos, a aplicação de princípios da economia circular tem ganhado força. Algumas marcas optam pela fabricação de tecidos projetados desde o início para serem reutilizados ou reciclados. Elas também não utilizam matérias-primas que impactam negativamente o meio ambiente, como derivados de plástico ou petróleo. As embalagens são igualmente feitas de materiais reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis. Para completar, crescem em todo o país as lojas da chamada “moda circular”, em que as pessoas compram e vendem roupas usadas, garantindo que essas peças sejam utilizadas por mais tempo e por mais pessoas.

Mas o que o cooperativismo tem a ver com a economia circular? Tudo! “O cooperativismo e a economia circular são conceitos que estão intimamente conectados, pois ambos são ferramentas norteadoras para um modelo de desenvolvimento sustentável e equitativo”, compara o coordenador de Meio Ambiente e Energia do Sistema OCB, Marco Morato.

O cooperativismo é um modelo de organização socioeconômica baseado na cooperação, no protagonismo das pessoas e que visa garantir a melhoria das condições de vida e trabalho de seus membros, tudo isso a partir da gestão democrática e coletiva de seus recursos e atividades.

“O cooperativismo pode ser uma ferramenta efetiva para promover a economia circular, conceito que está aderente aos seus 7 princípios, principalmente a Gestão democrática, Educação formação e informação, Intercooperação e Interesse pela comunidade. Essa conexão pode favorecer a adoção de práticas mais sustentáveis e conscientes por parte dos cooperados, famílias e comunidade, estimulando a produção e consumo de bens e serviços circulares, e promovendo assim cadeias econômicas mais resilientes e responsáveis”, pondera Morato.

Assim como o coordenador de Meio Ambiente e Energia da OCB, a ONU também considera as cooperativas peças-chave na promoção da economia circular como estratégia para um mundo mais justo e sustentável.

“As cooperativas são reconhecidas como protagonistas na incorporação do modelo de economia circular em seus negócios e comunidades. Muitas cooperativas têm sido inovadoras na gestão sustentável de recursos em seus setores — lançando programas de conscientização do consumidor, desenvolvendo políticas de reciclagem e liderando iniciativas de redução do desperdício de alimentos”, diz documento A economia circular, as cooperativas e a economia social e solidária, elaborado pela Divisão de Desenvolvimento Social Inclusivo da ONU.

No texto, a ONU destaca o papel de cooperativas de vários lugares do mundo na produção de energias renováveis a partir de resíduos, na elaboração de novos produtos com a reutilização de materiais, na geração de emprego e renda com atividades de coleta e separação de materiais recicláveis, entre outras iniciativas.

COOPERATIVAS TRANSFORMADORAS

Como parte de um ecossistema de economia circular, as cooperativas têm atuado em parceria com outros setores para ajudar a fechar o ciclo de alguns produtos de maneira mais sustentável, reduzindo o descarte, reciclando produtos e reaproveitando materiais.

Conheça algumas iniciativas cooperativistas que seguem os princípios da economia circular:

Na Turquia, a Cooperativa de Desenvolvimento Agrícola das Aldeias Kocabeyli, Kara avuş, Süngütepe and Saatli Villages utiliza o bagaço de azeitona —resíduo da produção de azeite e nocivo para o meio ambiente —para fazer óleo e usá-lo como matéria-prima para fabricar sabão, gerando renda sustentável para os associados.

Na Bélgica, a BelOrta, uma das maiores cooperativas europeias de frutas e legumes, atua com mais de mil agricultores em um modelo que garante preços justos e um rendimento estável. A cooperativa utiliza um sistema de cogeração de energia, em que uma estufa produz energia complementar, injetada na rede local. A estufa tem um sistema de isolamento para economizar calor à noite e o sistema de irrigação aproveita a água da chuva.

A Dedo de Gente é uma cooperativa mineira que mostra o papel do cooperativismo no design circular. Criada em 1996, ela reaproveita materiais que seriam descartados para a produção de produtos artesanais e peças de arte que traduzem a riqueza do sertão de Minas Gerais.

A Cooperárvore é a cooperativa social do programa de Responsabilidade Social Árvore da Vida, da Fiat, uma iniciativa que se tornou referência na economia circular. O objetivo da cooperativa é gerar renda a partir de produtos criados com resíduos provenientes da indústria automotiva. Com mais de 150 produtos no catálogo, a cooperativa já reaproveitou mais de 37 toneladas de materiais descartados.

A Central de Cooperativas de Trabalho de Materiais Recicláveis do Distrito Federal (Centcoop) é uma rede de 25 cooperativas e quase 3 mil associados que atua na coleta seletiva e reciclagem de resíduos em Brasília e cidades da região. Primeira central de cooperativas de agentes de reciclagem do Brasil, a Centcoop se tornou referência para a América Latina.

Além desses exemplos, as cooperativas estão presentes em muitas outras iniciativas de economia circular, em diversos setores. O compromisso do cooperativismo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU têm impulsionado essa transformação rumo a novas formas de produção e consumo no nosso modelo de negócio.

“Nós, do Sistema OCB, temos o compromisso de compartilhar boas práticas de produção eficiente e cada vez mais próxima do modelo de economia inclusiva, sustentável e circular em que cada insumo da natureza seja corretamente aproveitado”, explica Morato. Existe, inclusive, um site criado para falar do assunto, o Cooperação Ambiental, que traz um manifesto com o compromisso do cooperativismo com um futuro mais sustentável e mostra como as cooperativas estão trabalhando na prática para isso.

Conheça os 3 princípios da economia circular 
Eliminar resíduos e poluição
Manter produtos e materiais em uso
Regenerar a natureza
Juntas, essas três diretrizes formam a base de um modelo econômico focado no compartilhamento, reutilização e reciclagem de materiais e produtos existentes para reduzir a exploração de novos recursos.

Fonte: SomosCoop