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Artigo: Pagamento digital ganha espaço e gera oportunidades para cooperativas

A transformação digital chegou com tudo no universo dos serviços financeiros. Hoje, é difícil imaginar o dia a dia sem as facilidades do internet banking e a praticidade de gerenciar as contas pelo celular. Mas, acima de tudo, o grande protagonista desse processo é o pagamento digital.

A comodidade de fazer compras e pagar contas no ambiente digital engajou muita gente. Sem a necessidade de andar com papel moeda, frequentar caixas eletrônicos e se preocupar com o troco, o pagamento digital se tornou preferencial para uma grande parcela das pessoas.

Além dos avanços tecnológicos e de segurança, a pandemia de Covid-19 também ajudou a impulsionar a difusão do pagamento digital. O comércio digital ganhou força e, consequentemente, as opções de pagamento digital se solidificaram nos novos hábitos de consumo.

Pagamento digital ou pagamento phygital?

O pagamento digital, contudo, não se limitou a crescer no comércio online. Alternativas como o Pix e as carteiras digitais também são usadas presencialmente com uma frequência cada vez maior.

A tecnologia NFC (near field connection), utilizada nos pagamentos por aproximação, acelerou ainda mais esse processo. Agora é só encostar o cartão ou o celular na maquininha e pronto, está pago!

Com o avanço tecnológico e a mudança de hábitos, o pagamento digital proporciona oportunidades de negócios. Além de fornecer novas alternativas a quem vende, quem atua no ambiente financeiro, como as cooperativas de crédito, também devem ficar de olho nesse movimento.

Neste artigo, iremos apresentar um panorama sobre o pagamento digital, indicar algumas oportunidades – e desafios – que as cooperativas devem acompanhar e conhecer soluções de dentro do cooperativismo. Aproveite a leitura!

Panorama: as novas realidades do pagamento digital

Pagamento digital consiste em todo pagamento que é feito pela internet, por meio de uma transação bancária ou por cartões de crédito. Na prática, isso quer dizer que pagamento digital é quando não existe a transferência física do dinheiro, seja por cédulas, moedas ou cheques.

Dados do Banco Mundial apontam que, nos últimos cinco anos, a bancarização dos países em desenvolvimento cresceu 8%. Com maior acesso aos serviços bancários, a adesão ao pagamento digital cresce junto. Consequentemente, o uso de cartões, carteiras digitais e pagamentos por meio dos aplicativos bancários ganham espaço na vida das pessoas.

Os brasileiros abraçaram o pagamento digital de vez. Um levantamento da Mastercard publicado em 2022 revela que 86% dos brasileiros tinham utilizado algum meio de pagamento digital ao menos uma vez nos doze meses anteriores. Nesse sentido, não podemos deixar de registrar que as cooperativas de crédito são muito importantes para a inclusão financeira no Brasil.

Pix: pagamento digital fácil e instantâneo conquista brasileiros

Disponibilizado em 2020, o Pix, ferramenta que permite transferências de dinheiro e realização de pagamentos de forma imediata, ganhou popularidade rapidamente. Sem custos para pessoas físicas, o Pix não levou muito tempo para superar os cartões de crédito e débito como principal forma de pagamento no Brasil levando em conta o volume de transações, aponta o Banco Central do Brasil.

Assim que completou dois anos de operação, o Pix registrou um total de 28,5 bilhões de transações. Os dados mensais apresentados pelo Banco Central continuam apresentando uma trajetória de crescimento no uso do Pix. Somente em dezembro de 2022, mês de festividades e alta no consumo, foram quase 3 bilhões de transações usando a ferramenta.

O Pix já foi utilizado por 90% de quem participou da pesquisa Meios de Pagamentos 2022, elaborada pela Opinion Box. Além disso, mais de um terço das pessoas acreditam que o Pix mudou para melhor a forma como fazem pagamentos no dia a dia. O principal atrativo é a ausência de taxas para fazer os pagamentos.

O cooperativismo aderiu ao Pix. O Banco Central registra 802 instituições financeiras que participam do ecossistema. Dentre elas, 599 são cooperativas de crédito e outras duas são bancos cooperativos. Esses dados mostram que as cooperativas de crédito estão atentas às novas tendências e inovações do mercado de pagamentos e lideram a transformação digital no meio financeiro.

Novidade libera pagamento por cartão no WhatsApp

A integração do pagamento digital às plataformas que usamos no cotidiano também contribui para o processo de modernização da vida financeira. Por exemplo, desde 2021, já é possível fazer transferências por WhatsApp, o aplicativo de mensagens mais usado no Brasil, apontando esse caminho.

Agora, as possibilidades aumentaram: em março de 2023, o Banco Central autorizou pagamentos com cartão de crédito e débito pelo WhatsApp, por meio do serviço WhatsApp Pay. Esse movimento busca agregar as soluções financeiras de forma mais natural no cotidiano.

O recurso simplifica compras e transações combinadas por meio do aplicativo. Imagine uma cooperativa que fecha vendas de seus produtos ou serviços pelo WhatsApp. Com a novidade, o pagamento pode ser feito diretamente pelo chat, sem necessidade de emitir boletos ou QR Codes, tornando a experiência mais fluida, sem precisar ficar alternando de aplicativo.

O pagamento digital por WhatsApp, contudo, ainda precisa enfrentar a desconfiança dos usuários. Os dados da Opinion Box registram que as pessoas ainda têm receio de usar os recursos financeiros do aplicativo. O principal temor, que assola quase metade dos entrevistados, é o de cair em fraudes.

O cooperativismo já marca presença também nesse novo serviço. Na lista de parceiros iniciais do serviço, estão a cooperativa de crédito Sicredi e seu banco digital, o Woop.

A difusão das carteiras digitais

Outra modalidade consolidada de pagamento digital impulsionada pelas novas tecnologias são as carteiras digitais. Geralmente associadas a dispositivos móveis, como celulares e relógios inteligentes, elas facilitam pagamentos tanto no ambiente digital quanto em transações presenciais. Há dois tipos de carteiras digitais:

?    Baseadas em cartão: o usuário cadastra seu cartão em aplicativos de carteira digital para realizar pagamentos por aproximação, graças à tecnologia NFC.

?    Baseadas em valor armazenado: o usuário transfere ou deposita dinheiro para a carteira digital, sem a necessidade de um cartão, e pode fazer pagamentos diversos através da plataforma.

No mundo, as carteiras digitais são o meio de pagamento digital mais utilizado. O Global Payments Report 2023 aponta que, em 2022, essa modalidade representou 49% dos pagamentos digitais. E não vai parar por aí – a estimativa é de que essa proporção chegue a 54% em 2026.

Na América Latina, contudo, as carteiras digitais são bem menos difundidas. Elas ficam atrás dos cartões de crédito no ranking de pagamentos digitais mais utilizados, como 21% de participação.

Mas também é possível enxergar esse dado como uma oportunidade. O setor de carteiras digitais na América Latina também tem perspectivas de crescimento. A expectativa é de que, em 2026, essa modalidade chegue a 28% dos pagamentos digitais no continente.

As criptomoedas e o real digital

As cripromoedas, como o Bitcoin e a Ethereum, criaram um novo ecossistema na economia digital. Contudo, essas moedas digitais nunca ganharam espaço como meios de pagamento digital, já que são complexas de usar e as transações podem ser demoradas.

O conceito de moeda digital, entretanto, se mostrou resiliente e interessante. Com isso, surgiu um movimento de bancos centrais que buscam desenvolver suas próprias alternativas. O Brasil é um dos interessados nesse movimento de tokenização.

Em sua agenda de modernização, o Banco Central do Brasil está desenvolvendo o Real Digital. A criptomoeda é vista com o potencial de melhorar a eficiência do mercado de pagamentos de varejo e de promover a competição e a inclusão financeira.

Por meio do LIFT (Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas), o BC, a Fenasbac e uma série de parceiros do mercado financeiro estão desenvolvendo um Mínimo Produto Viável do Real Digital.

Roberto Campos Neto, atual presidente do BC, explica que as transações do Real Digital serão feitas por contratos inteligentes – isto é, por meio de regras escritas em código de programação e que são realizadas automaticamente. “No fim, o que se vai ter é um instrumento no celular onde será possível navegar no sistema financeiro com portabilidade, digitabilidade, comparabilidade etc.”, argumenta.

Coffee Coin: a criptomoeda cooperativista

O cooperativismo brasileiro já está explorando as possibilidades das moedas digitais. A cooperativa agropecuária Minasul, especializada na produção de café, lançou a sua própria criptomoeda, o Coffee Coin.

O Coffee Coin é uma stablecoin (moeda estável) – isto é, um criptomoeda que possui lastro em um bem tangível. Como sua variação de preço é correlacionada ao preço da saca de café, a moeda é mais estável e segura.

Durante o Cooptech 2022, Luis Henrique Albinatti, diretor de Novos Negócios, explicou que o desejo da cooperativa é popularizar o Coffee Coin como um meio de pagamento. A criptomoeda cooperativista, inclusive, é negociada em exchanges, inclusive na Foxbit, principal do Brasil no setor. Confira a história completa da Coffee Coin que contamos no Radar da Inovação.

Os superapps e os pagamentos digitais

Em nosso artigo sobre as tendências que viraram realidade em 2023, mostramos como os superapps estão ganhando força ao concentrar diversos serviços em um mesmo aplicativo. Afinal, quanto mais recursos uma mesma plataforma fornecer, maior é a comodidade para o usuário e a fidelidade com a marca.

Na prática, os superapps são aplicativos que centralizam uma gama de atividades online em um único lugar. Muito forte na Ásia, esse conceito chegou com tudo no Ocidente. Um dos recursos mais importantes para o sucesso de um superapp tem a ver, justamente, com a disponibilização do pagamento digital.

É o caso do WhatsApp, que mencionamos acima. Recursos que possibilitam transações financeiras e pagamentos digitais sem sair da plataforma potencializam o seu uso em detrimentos de alternativas com menos possibilidades.

O superapp de maior destaque no Brasil é o Magalu, da rede varejista Magazine Luiza que, além de servir como plataforma de compras, proporciona uma gama de serviços – inclusive financeiros. Além de uma conta digital, o aplicativo tem seu próprio serviço de pagamento digital, o MagaluPay.

Oportunidades e riscos do pagamento digital

As tendências indicam um futuro financeiro cada vez mais tecnológico. O dinheiro físico está perdendo espaço para as novas formas de pagamento digital. A pesquisa da Opinion Box revela que 71% dos entrevistados acreditam que os meios digitais vão acabar com o dinheiro de papel no futuro.

Essa percepção demonstra o otimismo dos brasileiros com o futuro do pagamento digital. Com isso, o ecossistema de pagamentos digitais apresenta espaço para que novos atores possam crescer, inovar e democratizar ainda mais o acesso a esses serviços.

No Brasil, dados da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços) indicam que os meios de pagamento eletrônicos cresceram 21% apenas em 2022. Com isso, a estimativa é de que o ano tenha alcançado R$3,2 trilhões em transações digitais.

Além disso, uma vez que os pagamentos digitais caíram nas graças dos consumidores, é importante adotá-los como forma de melhorar a experiência do cliente. Uma jornada de compra satisfatória passa pela fluidez do pagamento – e as soluções digitais reduzem bastante os atritos nesse processo.

As Fintechs de meios de pagamento digital

O Brasil apresenta um ambiente de negócios positivo e fértil para as fintechs (negócios que aliam soluções tecnológicas aos serviços financeiros) de meio de pagamento digital. Isso ajuda a criar um ecossistema financeiro moderno e democratizado.

Dados da SlingHub compilados em um relatório da Snaq registram que, em 2021, o segmento de meios de pagamento apresentou um crescimento de quase 13 vezes em comparação ao ano anterior.

Ademais, ao todo, 76% das fintechs de meios de pagamento da América Latina são brasileiras. Esse setor chegou até mesmo a produzir alguns dos unicórnios brasileiros – startups que alcançam um valor de mercado avaliado em mais de 1 bilhão de dólares.

Unimed Pay: uma fintech própria do ecossistema cooperativista

Com presença em 86% do território nacional, o Sistema Unimed conta com 341 cooperativas, 118 mil médicos cooperados, 19 milhões de clientes, mais de 29 mil hospitais, clínicas e serviços credenciados e 150 hospitais próprios.

Esse ecossistema complexo movimenta bastante dinheiro. E uma solução de pagamentos foi desenvolvida para manter as receitas circulando no próprio sistema: o Unimed Pay, lançado no fim de 2022 em parceria com a Q2 Bank.

Em sua primeira fase, a Unimed Pay atenderá médicos cooperados, Unimeds e prestadores de serviço. Em um ano, a meta é atingir 5 mil carteiras digitais ativas e 2,5 mil maquininhas. O modelo inclui uma série de recursos como:

?    Carteira digital com antecipação de recebíveis de consultas e procedimentos médicos

?    Ressarcimento de atendimentos

?    Transferências P2P

?    Cashback

?    Maquininhas com biometria facial

?    Funções de cartão de identificação

Dentro de cinco anos, a estimativa é alcançar 80 mil contas digitais dentro do Sistema Unimed e 40 mil maquininhas. Além disso, a previsão de lucro líquido da Unimed Pay nos próximos cinco anos é superior a R$20 milhões. Saiba mais sobre essa fintech cooperativa no Radar da Inovação.

As preocupações com a segurança

O principal gargalo em relação à adoção do pagamento digital é a questão da segurança. Ainda há bastante gente com ceticismo em relação à proteção das soluções de pagamento digital.

O temor decorre pode ser compreendido por meios dos dados da Opinion Box. Quase metade dos entrevistados já foram vítimas de golpes, fraudes ou tentativas de fraudes relacionadas a meios de pagamento.

Logo, por mais que as novas tecnologias de pagamento digital sejam seguras, elas precisam transmitir a sensação de segurança para os usuários. Esse pode ser um diferencial importante na competitividade desse setor.

Além disso, a segurança dos dados deve ser um dos principais focos de quem atua no mercado de pagamentos digitais. Assim, os negócios que competem nesse ecossistema precisam estar por dentro da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

Conclusão

A adesão às soluções de pagamento digital é grande e a tendência é de que cresça ainda mais. A transformação digital dos serviços financeiros é veloz – tanto no desenvolvimento de novas alternativas quanto na adesão ao pagamento digital. É, portanto, o momento ideal para encontrar novas oportunidades nesse ecossistema.

O pagamento digital chegou para ficar e crescer. Impulsionado pela pandemia de Covid-19, o pagamento digital cruzou a fronteira do digital e está sendo adotado também no mundo físico.

A forma com que lidamos com o dinheiro está mudando rapidamente, e o cooperativismo deve estar atento a essas movimentações. O cooperativismo de crédito é um agente fundamental para a inclusão bancária no Brasil. Dessa forma, as cooperativas de crédito podem ser, também, protagonistas na democratização do pagamento digital.